Tiquetaque, tiquetaque
Essa arte que nos parte
Tenho de ir, não posso ficar
Quero ficar, mas tenho de ir
Teus ponteiros impiedosos
O tempo que nunca páras
As obrigações que disparas
O som do pêndulo
Que não esqueço
Que não mereço
Tiquetaque, tiquetaque
Prisioneira das horas
Dos minutos, dos segundos
Apertada nestes mundos
Do ter e do dever
Sem tempo para criar
Amar
Andar para a frente sempre
Olhar sem ver
Ouvir, sentir
Tiquetaque, tiquetaque
E não poder fugir
Aos grilhões firmes, persistentes
E com esgar e entre dentes
Odiar-te
Ladrão do nosso tempo
Ladrão do passatempo
Tiquetaque, tiquetaque
Eu quero viver desordens
Que não tenho
Que não posso
Escrava da hora que passa
Chegar tarde
O que é chegar tarde?
E a vida arde
E há prazer que tarda
Morte à hora
Tiquetaque, tiquetaque.
Fora!
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