Gaily beddight / A gallant knight
In sunshine and in shadow / Had journeyed long ,
Singing a song , / In search of Eldorado
But he grew old - / This knight so bold -
And o ´er his heart a shadow / Fell as he found
No spot of ground / That looked like Eldorado
And , as his strength / Failed him at length
He met a pilgrim shadow - / " Shadow, " said he ,
" Were can it be - / This land of Eldorado ? "
" Over the Mountains / Of the Moon
Down the Valley of the Shadow , / Ride , boldly ride,"
The shade replied - / " If you seek for Eldorado ! "
Aceita em tua fronte este meu beijo! /E, neste instante em que te deixo ,
Deixa que ao menos te confesse/Que não é ilusão , se te parece
Que minha vida em sonhos se entretece ;/Mas,se acaso a esperança fugidia
Se some numa noite ou num só dia , / Numa visão...ou não...será por isso
Menos certo o seu sumiço ? / Tudo o que é visto , tudo o que é suposto
É só um sonho noutro sonho posto
Eis-me aqui entre o bramido/ Do mar que junto à costa é sacudido
E guardo na mão fechada / Uns grãos de areia dourada ...
Tão escassos !...mas num segundo / Dos dedos vão para o fundo ,
E eu choro , ah , desabalado ! / Oh , Céus ! Porque os não aperto
Com um laço mais esperto ? /Oh , Céus ! Por que não posso eu salvar
Um só...das garras desse ímpio mar?/Tudo o que é visto,tudo o que é suposto
É só um sonho noutro sonho posto ?
Com os cestos aos ombros
Vergados, cansados
Pendurados nas encostas a pique
As vinhas carregadas, belas
O vinho é o sangue do esforço
Da mulher e do homem fortes
As folhas amarelo-castanhas, vermelhas
Com o sol a reflectir Beleza
E o trabalho, todo ele aspereza
E ao fim da tarde, exaustos, gastos
Esperam quem os leve a casa
Conversam, riem
Parecem felizes
O trabalho, o dever cumprido
Quem não trabalha, não come
E eles sabem que é assim, ali
E a beleza, tanta beleza à volta
Faz descansar a Alma, a vista
O vinho é caro, vai pelo mundo fora
Enche os bolsos de muitos
Que lhes estão acima
Mas o trabalho, o esforço é da vindima
São poucas as moedas
Para pagar este suor
Misturado com os cachos
Argamassa deste labor
E foi este esforço não reconhecido aqui
Que alcandorou o Douro
A Património da Humanidade
A Património Mundial
É Beleza, é sofrimento igual.
Dia luminoso, lavado
Da janela larga, iluminada
Vejo a cidade bem perto
Tudo a nu, a descoberto
A mãe empurra com enlevo
O filho querido, desejado, amado
O amor, esse bem maior
É visível, é possível
Namorados abraçados ao sol
Entre beijos e desejos
Amigos, cumprimentos efusivos
Amizade invade a cidade
Dia luminoso, lavado
Da janela larga, iluminada
Vejo velhos vergados
Passos arrastados
O verão que se aproxima
Já passou por eles
O sol é refrigério
O sol esse mistério
Já nem os aquece
A alma ainda estremece
O corpo não obedece
E o que se esquece... esquece...
Dia luminoso, lavado
Da janela iluminada
Vejo gente, tanta gente que está só
A tristeza, a solidão lá estão
O rosto, o espelho da Alma
É triste não se acalma
E todo o esforço é vão
Dia luminoso, lavado
Da janela iluminada
Vejo crianças a correr, felizes
Correm saltam os petizes
Sorrio com aquelas brincadeiras
Com essas emoções tão verdadeiras
Dia luminoso, lavado
Dia harmonioso, encontrado.
Deixai romper o Sol
Ó nuvens tão pesadas
Mesmo as esbranquiçadas
Espectáculo variado, inconsistente
Desenho estranho, demente
Misterioso
Indecifrável
Mutável
Deixai romper o Sol
Ó nuvens tão armadas
De água carregadas
Aos empurrões
Aos baldões
Nesse céu sem luz
Sem brilho
Sem tino
Um desvario desajustado
Deixai romper o Sol
Ó nuvens ribombantes
Tonitruantes
Iluminadas
De raios em ziguezague
Armadas de lanças
Prontas a devastar
Preparadas para matar
Deixai romper o Sol
Ó nuvens desgostosas
Tão chorosas
Do mal que nos causais
De peso absurdo
Que vós trazeis ao mundo
Desditosas
Deixai romper o Sol
Aliviai
Camões poeta
O nosso tão esteta
O épico, o lírico divinamente
O artífice desconhecido diariamente
Foste atirado à Índia
Deportado, arrancado a Portugal
Amaste o teu país
Em verso e em reverso
Foste muito infeliz
Em destino pátrio e diverso
Ofereceste a tua alma épica
Ao teu Rei e País
E a sorte não quis
Que te elevassem em vida
Morreste na miséria e fome
Às portas de Lisboa
E o que mais me magoa
É ver as gerações de jovens
A cortar teus versos
Dividir orações
Sem sentirem as fundas emoções
Da tua alma alta
Perderem-se no curso
Do discurso gramatical
Sem se deterem no essencial
A Arte, a Poesia
Que contagia e inebria
Perdida, desperdiçada
Tão mal amada
Camões poeta
Lembrado a dia dez
Ó Portugal, desperta!
Agarra no teu Vate
Diz o seu verso, a sua arte
Ser Português
Seja ler Camões
Conhecê-lo
Citá-lo
Falar dele
Dar a conhecer ao mundo
Mestre tão profundo
Representar a sua obra
Que em tanta filigrana se desdobra
Portugal
Em Camões insista
Ser Português, seja ser Camões
Ser Português, seja ser artista.
Andei atrás de ti como uma louca
Sabendo que te queria
e não devia.
Andei atrás de ti como uma louca
Segui-te passo a passo com o olhar
Olhavas para mim e bem sabias
Ardias entranhado no meu corpo
Espraiavas-te, alongando-me a alma
Andei atrás de ti como uma louca
Queria que fosses meu
para todo o sempre
Sabias e até querias que fosse eu
a dar o passo, a estender a mão
Um dia foste embora sem fazer
um breve aceno com o corpo ou o olhar
Hoje voltaste
Passo por ti e sorrio, aliviada
Nada deixaste
Que eu quisesse guardar
Passou tanto tempo
e agora vejo
o tempo que eu perdi
julgando amar
Andei atrás de ti como uma louca
Não vou atrás de mais ninguém andar.
<>
Tiquetaque, tiquetaque
Essa arte que nos parte
Tenho de ir, não posso ficar
Quero ficar, mas tenho de ir
Teus ponteiros impiedosos
O tempo que nunca páras
As obrigações que disparas
O som do pêndulo
Que não esqueço
Que não mereço
Tiquetaque, tiquetaque
Prisioneira das horas
Dos minutos, dos segundos
Apertada nestes mundos
Do ter e do dever
Sem tempo para criar
Amar
Andar para a frente sempre
Olhar sem ver
Ouvir, sentir
Tiquetaque, tiquetaque
E não poder fugir
Aos grilhões firmes, persistentes
E com esgar e entre dentes
Odiar-te
Ladrão do nosso tempo
Ladrão do passatempo
Tiquetaque, tiquetaque
Eu quero viver desordens
Que não tenho
Que não posso
Escrava da hora que passa
Chegar tarde
O que é chegar tarde?
E a vida arde
E há prazer que tarda
Morte à hora
Tiquetaque, tiquetaque.
Fora!
Ondas alterosas, revoltadas
Lançam-se contra as rochas tonitruantes
Rochas absortas, nem expectantes
Ondas, mãos verticais, atiradas ao Céu
Em preces perdidas
Insistentes
Desistentes
Ondas homéricas, sanguinárias
Tantas mortes, tantas e várias
Destruições, maremotos, naufrágios
Reais e presságios
Ondas temerosas, monstruosas
Ondulantes onduladas
Desenvoltas espraiadas
E já tão alvas, tão belas
Atiram-se às quentes areias
Que as atraem, quais sereias
Deitam-se e e enteiam-se
Ao calor do Sol
Tão fracas, tão sensíveis
Sensações impossíveis
Calmas, cada vez mais calmas
Esquecidas da revolta e dor
Longínqua a agonia
Beijam a praia
Inspiram a maresia
Sentem o Sol, a areia, o calor
Essa sinfonia
Esse Mar de Amor
É vicioso, empastado, malcheiroso,
Por sua causa
o céu não é azul
o ar perdeu o tom e a limpidez
do mar a espuma preta
empresta, invade o areal
Por sua causa
fazem-se e desfazem-se guerras
criam-se e não se cumprem leis
Por Ele
o homem esquece o outro homem
o homem inventa um Deus
Ó Deus Petróleo
como te adoram e bajulam todos
Ó Deus Petróleo
Como são ricos os que em Ti confiam
Ó Deus Petróleo
Como se ajudam os que Te contêm
Ó Deus Petróleo
Como se desprezam mais e mais os outros
Ó Deus Petróleo
Não quero acreditar em ti
Insisto em acreditar no Homem.
Isabel Sá Lopes
Mar e Fogo
Horizonte de vermelho e fogo
Longe o mar a arder
Mar e céu num abraço apertado
O nosso olhar desfraldado
Absorve esse cenário em brasa
Parece um aquário a arder
E o sol esconde-se a rir
Inferno e Beleza a unir
O infinito tornado finito
A cor, o tom abrasador
O olhar lançado ao fundo da imagem
Tão longe essa real miragem
À beira-mar a praia é um deserto,
Toalhas, bolas, crianças já não há
Cansada sumiu-se a miudagem
Fiquei sentada na areia molhada
A sentir a bênção da água cálida
A sorver o silêncio imenso à minha volta
O mar sem qualquer revolta
Vai e volta devagar
Vai e volta ao mesmo lugar
Ondas pequenas, amenas, voláteis
Sensações periféricas, feéricas
E o mar a arder
E o mar a amar
O sol a chispar fogo
Eu a querer ficar
Eu saber que é tarde
Eu não querer perder
Esse sol primeiro
Esse sol braseiro
Querer, absorver
Esse céu que arde.
Isabel Sá Lopes, 2008
Não era muito alto e era magro
Os óculos grossos descansavam-lhe no nariz
A face e o rictus pesavam de raíz
Teimava com todos e com tudo
A perfeição é tão difícil de atingir
E querer chegar lá, sem jamais mentir
Não é impossível, é fado complicado
Cursava em Coimbra e trabalhava
Já tinha alunos a quem dava lições
Dizia-se que também dava sermões
ISTO está tudo mal, pá!
ISTO não é país!
ISTO está no final!
E atacava tudo nas suas canções
Não havia um senão
Neste país tudo eram frustrações
A LIBERDADE, pá
Onde é que ela está?
O pão? Poucos têm o seu quinhão
Estudar? Só para senhores
E filhos de doutores
ISTO está tudo mal, pá!
A canção que eu faço ataca
Mas não chega
ISTO não é PAÍS!
Sem LIBERDADE somos todos vis
Uma luz agora
Tu acreditas? EU NÃO!
ISTO só lá vai com um grande safanão
ISTO só lá vai se tudo fôr abaixo
Ditadores, bufos, pides
ISTO só com o POVO, REVOLUÇÃO
Isabel Sá Lopes
O vento atira-se às janelas
As árvores estremecem, tremem
Abanam sem parar
Lançar sombras fantasmagóricas
Alteram a aparência do lugar
O vento sopra, uiva, extenuado
Lança-se contra a pele, infeliz, arrepiado
As folhas balançam, desiquilibram-se
Tentam agarrar-se, viver
São arrancadas cerce, vão morrer
Tapetes castanhos, amarelo-avermelhados
Enchem as ruas, os jardins, as matas
Os pés levantam, arrastam
Esse manto belo, morto
E de súbito uma rajada
Estilhaça, espalha pelo ar
A dançar, a dançar
Folhas desenhadas com arte
Folhas enroladas por dedos mágicos
Côr e mais côr a rodopiar
A pena de não ter uma máquina
Para as agarrar e fixar
Pelas frinchas infiltra-se forte o frio
Nas nuvens negras a água pesa já
Em pouco tempo vai desabar
A Terra sedenta vai consolar
MAS A MIM NÃO
Faz-me falta o calor, a LUZ
A Festa do VERÃO.
Isabel Sá Lopes
Amizade
Estou aqui. Estou com vontade de não estar.
Lá fora vento, vento frio desabrido
Cabelos em farripas no ar
Gente abafada, agasalhos rentes ao pescoço
O alvoroço, de correr para casa
O desejo de não se constipar
Fugir à gripe e à rinite
Eu sinto o mesmo e fico
Por mim já me tinha ido embora
Por mim que não gosto de esperar
De estar só, do mau tempo
Eu que detesto o vento
Faz-me mal
É sempre um mau sinal
Do vento frio nada de bom espero
Desespero quase sempre
Será desta vez diferente
Estou aqui e este facto em si
Explica a Amizade
Isto não é bondade
Nem paciência, nem dormência
Isto é gostar de ver,
de comunicar, de saber
Se dou, recebo mais
O que dou e recebo nunca é demais
A vida sem isto pouco vale
O amigo não nos pede nada
Não nos dá notícias más
Não viramos as costas e zás
O amigo sossega o coração
E sempre estende a mão
Por isso eu estou aqui
Apetecendo-me ir embora
Não vás. Tu és capaz
Não vou. Aqui estou.
Isabel Sá Lopes
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